5 de abr. de 2011

ARTIGO - O retrato do preconceito


Nos últimos meses ficamos chocados com vários ataques machistas, racistas e homofóbicos. Cada caso demonstra o processo de degeneração da sociedade capitalista e a necessidade de repensarmos valores importantes para o desenvolvimento das novas gerações. Não existe espaço para todos e muito menos o direito à igualdade de oportunidades nessa sociedade.

Quem não se lembra do trabalhador que manteve prisioneira sua ex-companheira por cerca de 70 horas? Um fato que teve repercussão nacional e que não produziu a reflexão necessária. Afinal de contas, o que levou esse trabalhador a visualizar sua companheira como um objeto de sua propriedade? Essa concepção está intimamente ligada à formação da sociedade atual – que tem como base a propriedade privada – onde as mulheres foram renegadas a meras coadjuvantes no processo de construção e produção da sociedade capitalista. A mulher cuida da casa e dos filhos enquanto os homens trabalham fora. A conseqüência dessa realidade é que a cada dois minutos uma mulher é espancada no Brasil.

O racismo é algo tão nefasto quanto o machismo e também está conectado com o processo de formação da sociedade. No Brasil, há pouco mais de 12 décadas se vivia em plena escravidão legal. Essa história recente infelizmente gerou um impacto social que até agora não foi reparado. Segundo dados divulgados pela Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, os negros e negras representam 69,3% dos 10% mais pobres e, apenas, 8,2% da camada constituída pelo 1% mais rico. Isso levando em consideração apenas os extremos, pois é sabemos que as periferias e o subemprego fazem parte da vida de grande parte da população negra em nosso país. Além dessas opressões de gênero, racial e sócio-econômica ainda temos que conviver com a opressão sexual.

A homofobia – um distúrbio psicológico que gera temor ou aversão aos seres humanos que se relacionam com outros do mesmo sexo – já assassinou em nosso país 260 pessoas no ano de 2010, considerando só os casos registrados. Segundo o antropólogo Luiz Mott, o risco de um homossexual ser assassinado no Brasil é 785% maior que nos Estados Unidos, sendo que este país já não é um bom exemplo de tolerância. O deputado Bolsonaro, ou Barossauro (um tipo de dinossauro que viveu entre 155 e 145 milhões de anos atrás nos Estados Unidos) apenas é um produto dessa sociedade degenerada, onde o respeito aos direitos humanos é timbre no papel e a hipocrisia é generalizada. Bolsonaro precisa ser punido com a perda do mandado. O lugar de pessoas como ele é na prisão.

Mas escrevo para comentar o susto que tive ao folhar as páginas da Zero Hora no último dia 04. Refiro-me à matéria “Vandalismo, drogas e sexo a céu aberto”, não por seu conteúdo escrito e sim pela homofobia disfarçada. O texto em si apenas afirma que o uso de drogas e o alcoolismo são uma realidade na juventude. Porém, as fotos que o acompanham revelam o verdadeiro preconceito. Faço uma pergunta para nossa reflexão: Qual o delito cometido pelos seis jovens que estavam se beijando nas fotos da reportagem especial? Para provar o flagrante e justificar o título que denuncia o vandalismo, drogadição e sexo explícito em uma das ruas mais conhecidas da capital, o jornal utilizou seis fotos, sendo que três delas apenas mostravam beijos e abraços. Para superar essa situação de drogadição entre os jovens os governantes devem tomar vergonha na cara e investir nas áreas sociais para disputar a juventude contra o tráfico. As vítimas do Sistema não podem ser culpadas ou criminalizadas pela sua situação. Homossexualidade não é sinônimo de vandalismo, drogadição e perversão.

Com a publicação dessas fotos neste contexto só posso chegar à conclusão que a Zero Hora fez um desserviço à luta contra a discriminação e ao combate à homofobia que mata e agride milhares de seres humanos todos os dias em nosso planeta. Este erro merece retratação!

Por Giovanni Mangia - Estudante e militante do PSTU
OBS: Artigo enviado ao jornal Zero Hora e que não foi publicado.

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