21 de set. de 2015

20 DE SETEMBRO: PORQUE LEMBRAMOS O INÍCIO DA GUERRA AO INVÉS DE SEU FIM?


Por Matheus Gomes da Direção Estadual do PSTU RS

Há 180 anos insurgia o grito precursor da liberdade? O conflito entre os chefes farrapos e o governo imperial se desenvolveu em meio ao período que o historiador Clóvis Moura denominou "Escravismo Pleno", a fase mais dinâmica do modo de produção escravista no Brasil. O RS não fugia a regra. O trabalhador escravizado era o centro da produção e a sua exploração o ponto de unidade entre a elite rio-grandense e imperial. No início da guerra, numa cidade como Pelotas, mais da metade da população era composta por escravizados, mesmo assim a Constituição Republicana afirmava que "A República do Rio Grande é a associação política de todos os cidadãos riograndenses", ou seja, dos "homens livres nascidos no território da República". Ao povo negro escravizado a liberdade não raiou com o grito dos farrapos.
Servimos como moeda de troca: éramos tratados como coisa pra produzir, passamos a ser coisa pra guerrear, do lado de lá e de cá. Antes desse território se chamar oficialmente Rio Grande do Sul já sofríamos por aqui, mas nesse conflito nossos interesses não estavam em jogo. Os farrapos não queriam alterar a estrutura de classes da sociedade, não flertaram com o movimento abolicionista, lutaram para ampliar sua riqueza e poder. Vocês sabiam que Bento Gonçalves morreu em 1847 e deixou como herança mais de 50 escravizados?
Então, porque não lembramos do fim? Rapidamente assinalo dois motivos. O primeiro é que os revoltosos foram derrotados, a República Rio-grandense foi perene, por diversos fatores que não cabem nesse comentário. O segundo é que o fim inclui o extermínio do povo negro e o acordo entre farrapos e o Império para liquidar a ala mais combativa do exercito farroupilha, consequentemente, sua ala mais perigosa: os Lanceiros Negros. Na Batalha de Porongos, a morte dos combatentes negros representou a dizimação de quase 10% das tropas farrapas, tudo armado por Duque de Caxias (Império) e David Canabarro (Farrapos). Aos que não sabem, isso é comprovado por documentos oficiais. Caso os Lanceiros continuassem de pé após a assinatura do tratado de paz, certamente cobrariam a promessa de liberdade e se a resposta fosse negativa poderiam iniciar um confronto armado cuja a resolução abriria uma crise maior que a guerra, tanto para o Império, quanto para a elite rio-grandense. Essa era a hipótese mais provável.
A construção histórica da figura do gaúcho exclui o protagonismo negro, é parte do arsenal que a nível nacional constituiu o mito da igualdade racial e deve ser desvendada por todas e todos que pretendem lutar para acabar com o racismo nos dias de hoje. Nada contra quem sai às ruas nessa data, apenas coloquemos as coisas no seu devido lugar e abracemos as bandeiras que servem para a nossa libertação. Ninguém melhor que Oliveira Silveira pra contar nossa história, termino com esse belo poema, "Negros no sul" e uma foto pra recordar velhos e bons tempos.
"No sul o negro charqueou
lavrou
carreteou
no sul o negro remou
teceu
diabo a quatro
o negro sul congou
bumbou
batucou
a negra no sul cozinhou
lavou
diabo a quatro
no sul o negro brigou
guerreou
se libertou

Quer dizer: ainda se liberta
de mil disfarçadas senzalas
prisões diabo a quatro
onde tentam mantê-lo agrilhoado."

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